Os meus pés estão cansados e a caminhada ainda nao chegou ao fim.

Pergunto-me se algum dia encontrarei o que procuro, e pergunto-me também, o que estou procurando.
Lanço-me nas estradas, não olhando a distâncias, correndo riscos, mas sem traçar uma rota definitiva.
Por vezes perco-me e volto para trás, faço travagens bruscas, ando à boleia, mas frequentemente eu me questiono:
será que alguém se pode perder sem saber sequer para onde quer ir?!
Esta incerteza torna os meus passos inseguros, o meu olhar vacila nas direcções, o meu coração não se decide, e o vento engana-me de novo.
O meu sangue revela a minha travessia, o seu vermelho profundo, vivo, quente, vai manchando os caminhos por onde passei, as pedras onde me cortei, aqueles que conheci, os poucos que amei, os poucos que não esqueci.
Se tentar traçar um mapa, sei que o vento levará as linhas. Se construir um castelo, as ondas vão deitá-lo abaixo, mais cedo ou mais tarde.
Mas eu sei que nunca desaparecerei definitivamente.
Nem ventos, nem tempestades, nem ódios, nem o tempo, me vão apagar.

A razão é simples.
Nunca serei totalmente nada, porque deixo um bocado de mim em tudo o que toco, em todos os que conheço. Por vezes não deixo quase nada, apenas uma leve brisa que recorda a minha presença, e noutras vezes, deixo quase tudo, deixo parte do coração, deixo um pouco de amor.
E enquanto esta memória durar, as imagens, os textos, os abraços, as noites vividas, as amizades, os amores, as aventuras e desventuras, as virtudes...
(e tudo o que me diz respeito)

Nunca se irão por completo, enquanto alguém pensar em mim.
E num futuro longínquo, quando todos nós formos de novo apenas pó de estrelas no imenso espaço, o que eu criar agora, continuará a existir.
Porque a arte não morre nunca. Simplesmente, muda, transfigura-se, esconde-se, mas nunca se perderá.

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